quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Deméter - A Deusa Mãe


Deméter

Mãe de todos

Sílvia Rocha



Na Grécia antiga, Deméter era a grande mãe que fazia renovar a vida principalmente no reino vegetal. Para os romanos era chamada de Ceres, da onde surge o nome cereal. Rainha da agricultura, dos campos de trigo rege também os ciclos da natureza, das estações, da colheita e do plantio. Possui profunda conexão com natureza e com os ciclos do corpo.

Muito mais do que uma função biológica, ser mãe é uma atitude de nutrir e proteger a tudo que necessita de cuidados. Sua nutrição pode vir nos primeiros momentos para necessidades físicas, mais tarde para apoio emocional e compreensão e mais tarde ainda como uma fonte divina de inspiração espiritual.

Deméter é o arquétipo que toda mulher vive quando tem filhos, ou quando se doa por completo a um relacionamento ou a um projeto de vida. É quando o coração se abre ao ver um animalzinho precisando de abrigo.

Pode se relacionar com homens emocionalmente imaturos e que carecem de cuidados ou podem se relacionar com homens que vêem nela uma possibilidade de construir uma família. O perigo está em ser também alvo de sociopatas que exploram sua generosidade colocando-as em situações constrangedoras de abuso emocional do qual tem dificuldades de cortar.

Sua generosidade exacerbada a coloca numa situação de dificuldade de dizer não. Atender o outro é instintivo e o dizer sim pode se tornar pesaroso para ela mesma. Confrontar Deméter nestas horas é sinal de saúde. Esgotamento físico, cansaço e fadiga são comuns em mulheres-Deméter. Dizer não soa a ela como algo não generoso o que a faz se sentir muita culpada. Reconhecer seu próprio limite é a saída da ilusão da onipotência.

Algumas mulheres exageram na Deméter e a proteção abundante que oferecem aos filhos é motivada pela necessidade que tem de que dependam dela. Infantiliza o filho, o amigo ou até o parceiro para se tornar indispensável. A preocupação exacerbada com o outro mascara uma arrogância, inferiorizando-o emitindo uma mensagem de que o outro não é capaz. Costuma manter pessoas inseguras a sua volta pois assim se sente superior e necessária. Sua auto-estima está ligada a este estado de utilidade para com os outros. Se os outros não precisam dela, é ela que se sente insegura e deprimida.

Deméter ganha maturidade e evolução quando supera sua necessidade de manter as pessoas sob seus domínios e consegue encorajar o crescimento transformando a relação em dependência mútua onde existe espaço para o respeito, apreciação mútua e amor.

Quando os filhos viram adultos sua função maternal protetora perde a necessidade. Pedir ajuda às outras Deusas neste momento é muito bom, principalmente as deusas independentes como Atena, ajudando-a a levar sua generosidade para o trabalho, Ártemis, instigando-a a fazer uma escalada aventureira ou Héstia, convidando-a a praticar centramento e meditação.

A mesma coisa acontece quando um relacionamento onde esta função era importante acaba, a mulher-Deméter pode cair em depressão se sentindo amargurada e sem identidade com ninho vazio. No caso dos filhos, é importante ela compreender que o amor, a educação e a proteção que eles receberam dela vão ser passadas adiante para seus filhos, netos da mulher-Deméter. Não existe nenhuma dívida, o amor e cuidados de mãe são incondicionais.

Seu ponto cego, difícil de enxergar é que ela por motivos egoístas e não altruístas superprotegem e controlam os filhos podendo ter muitos comportamentos e sentimentos negativos mascarados por atitudes de generosidade. Ela espera sempre ser apreciada e fica desapontada quando a criticam. Sentimentos de vítimas fazem permanecer na defensiva dificultando entrar em contato com sua sombra e sua raiva. Sentimentos de ter sido explorada devem vir a tona e expressos para serem curados.

Para Deméter deixar o outro crescer é necessário que ela desenvolva sua mãe interior ou seja, que ela se alimente de sua própria Deméter. Conectar-se com sua própria mãe e se reconciliar com seus filhos cura qualquer depressão. Uma Deméter equilibrada expressa bem suas emoções por estar bem em contato com seus sentimentos, seu corpo é a terra do planeta. É ela que devemos chamar para não medirmos esforços para cuidarmos uns dos outros, de nós mesmas e termos uma atitude ecológica. Deméter nos ensina a honrar a Mãe e o planeta Terra que nos acolhe e sustenta.

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